O Setor Mineral no Mercado de Ações

O Setor Mineral no Mercado de Ações

O setor mineral é um dos pilares da economia do país, apresentando faturamento de 70 bilhões de reais, apenas no primeiro trimestre de 2021, segundo o IBRAM. Além disso, atua na geração de empregos e renda. Quando se trata do setor mineral e o mercado de ações, geralmente associa-se ao investimento às matérias primas básicas, como o minério de ferro, e nas empresas que comercializam ou usam como insumo em seus processos, como, por exemplo, a Vale, CSN, Gerdau, Usiminas.

Para que uma empresa tenha suas ações comercializadas na bolsa é necessário  a realização do IPO (Initial Public Offering), que significa uma Oferta Pública Inicial. As empresas devem se submeter a uma série de regras de transparência e prestação de contas ao mercado financeiro e aos órgãos reguladores para que suas ações sejam ofertadas ao mercado. No texto de hoje falaremos como o setor mineral está presente no mercado financeiro, especialmente na bolsa de Valores, além de expor novas perspectivas.

 

Mercado de Ações e a Mineração

No Brasil, ainda são poucas as empresas do setor de mineração listadas na bolsa de valores brasileira, B3. Atualmente, as empresas do setor mineral e siderúrgico que mais tem se destacado na B3 são Vale, CSN, Gerdau e Usiminas. O mercado é governado pela oferta e demanda, de tal forma que ambos os setores estão intimamente ligados, especialmente quando falamos do minério de ferro, principal insumo para a produção de aço.

As matérias-primas básicas, como é o caso do Minério de Ferro, têm seu preço determinado pelo mercado mundial. Assim, pode ser uma opção de investimento, negociadas na B3 através do Mercado Futuro, trazendo proteção de capital e ganhos vantajosos, no entanto, é um investimento de alto risco, recomendada para investidores experientes.

Minério de Ferro, principal insumo para a indústria siderúrgica. Fonte: Exame Invest.

Ações das Mineradoras

A grande demanda de minério de ferro aliada aos altos preços beneficia diretamente as mineradoras, principalmente a Vale, assim como, as siderúrgicas CSN, Gerdau e Usiminas.

Os resultados da mineradora Vale no primeiro trimestre mostram o cenário benéfico. A receita líquida mais que dobrou na comparação com o mesmo período de 2020, chegando a R$ 69,3 bilhões. Além disso, obteve um lucro líquido de R$ 30,6 bilhões, enquanto de janeiro a março de 2020, o ganho foi de R$ 984 milhões. Ademais, a Vale gerou quase US$ 6 bilhões com as operações no trimestre. Em termos dos dividendos pagos pela Vale, o segundo semestre de 2020 distribuiu R$ 4,26 por ação. A expectativa para 2021 é positiva, visto que os resultados apresentados até então, estão melhores do que no ano anterior.

Assim, temos que o comportamento das ações da Vale e do preço do minério estão intimamente ligadas. O gráfico abaixo mostra esse cenário.

Cotações das ações da Vale (VALE3) e os preços dos contratos futuros de minério de ferro com vencimento em maio (TIOK21). Fonte: Seu Dinheiro.

Ações das Siderúrgicas

As siderúrgicas, consequentemente, são beneficiadas com essa alta do minério de ferro.  Como é a matéria-prima para a produção do aço, o produto final da Gerdau, Usiminas e CSN ficou mais caro. Segundo o Instituto Nacional das Distribuidoras de Aço (INDA), os preços foram reajustados em 35% somente neste ano, e em 2020, a alta acumulada chegou a 90%. Mesmo diante da pandemia, a construção civil e a indústria de base continuaram suas operações, e com isso, as vendas de aço seguiram em alta.

Da mesma forma que a Vale, as siderúrgicas, Gerdau, Usiminas e CSN, reportaram resultados positivos no primeiro trimestre. Com receita e lucro em alta, geração de caixa e queda no endividamento, foi o que o balanço dos meses de janeiro, fevereiro e março trouxe consigo. A Gerdau possui um fator adicional aliado ao plano de incentivo à infraestrutura do governo Joe Biden. A companhia possui operações em território americano e, com isso, estaria habilitada a capturar o aumento na demanda por aço.

Preço das ações da Gerdau (GGBR4), CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5), de janeiro de 2020 a maio de 2021, frente a demanda por aço. Fonte: Seu Dinheiro.

O Preço do Minério de Ferro

O preço do minério de ferro está atrelado à demanda do setor siderúrgico, tanto do consumo interno, quanto de exportação, assim como da alta do dólar. Atualmente, a China é o principal comprador de minério de ferro, devido ao intenso desenvolvimento nos setores de infraestrutura e construção civil. A tendência é que a demanda pelo minério de ferro cresça, juntamente com o seu preço, e consequentemente, espera-se o crescimento do mercado de ações das empresas do setor mineral e siderúrgico.

Gráficos que mostram a importação e preço do minério de ferro em Qingdão, província da China no período de fevereiro de 2018 a março de 2021. Fonte. XP Investimentos.

Os números referentes aos preços são promissores. Em dezembro de 2020, a tonelada do minério de ferro no porto chinês de Qingdao valia US$ 159,85. Em 11 de maio de 2021, o minério de ferro foi negociado a US$ 228,93 a tonelada, um aumento de mais de 40% em apenas cinco meses. Os contratos futuros e as cotações nos demais portos da Ásia também ultrapassam US$ 200 a tonelada, como mostrado no Gráfico abaixo.

Comportamento dos contratos futuros do minério de ferro. Fonte: Trading Economics.

A Primeira mineradora de ouro na B3

A Aura Minerals foi a primeira mineradora de ouro listada na B3, em julho de 2020. A Companhia surgiu no Canadá, onde também está listada desde 2006, na bolsa de Toronto (TSX), e em 2020 decidiu abrir capital no Brasil.  Apresenta operações no México, Honduras, EUA e Brasil, e alguns projetos em andamento como mostrado na imagem abaixo.

Operações da Aura Minerals no Continente Americano Fonte: Aura Minerals/Invest News.

O ouro é um elemento conhecido como porto seguro em tempos de crise. O metal é considerado mundialmente um dos ativos financeiros mais seguros da economia. Isso porque além de ser um ativo físico, o ouro serve de lastro à reserva monetária de inúmeros países, tendo seu valor e demanda sempre garantido. Para saber mais, leia nosso texto aqui.

O desempenho da mineradora no último ano pode ser visto no gráfico abaixo.

Desempenho da Aura Minerals: Julho/20 a Maio/21. Fonte: Investing.

Desempenho das Empresas Estrangeiras com operações no Brasil

O mercado de investidores é global, e além das empresas negociadas na bolsa de valores brasileira, há empresas com operações no nosso território e com ações negociadas em bolsas de valores fora do país, como a TSX e ASX, por exemplo. Como exemplo dessas empresas, temos a Sigma Lithium Resources, Anglo Gold Ashanti, Yamana Gold, entre outras.

A Sigma Lithium, empresa canadense, tem um projeto de extração de lítio no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. O lítio é matéria-prima das baterias dos carros elétricos, uma tecnologia em evolução no mundo. As ações (SGMA) são negociadas na bolsa canadense, TSXV. O gráfico abaixo mostra o desempenho da empresa no último ano.

Desempenho da Sigma Lithium na bolsa canadense, TSXV: Junho/20 a Maio/21. Fonte: Investing.

A Yamana Gold, mineradora canadense, atua no Brasil no estado da Bahia, nas cidades de Santaluz e Jacobina, na extração de ouro, além de outros projetos de exploração mineral em desenvolvimento no país. Suas ações são negociadas em diversas bolsas de valores, incluindo as bolsas de Londres, Nova York, Canadá, Alemanha e Buenos Aires. O desempenho no último ano, na bolsa de Toronto, pode ser visto no gráfico abaixo.

Desempenho da Yamana Gold na bolsa de Toronto: Julho/20 a Maio/21. Fonte: Investing.

A Anglo Gold Ashanti, grande produtora de ouro presente no Brasil desde 1834, tem operações em Minas Gerais e Goiás. Suas ações (ANGJ) são negociadas em 5 bolsas mundiais: Bolsa de Joanesburgo, Nova York, Frankfurt, Dusseldorf e de Sydney. Confira abaixo o desempenho no último ano na bolsa de Nova York.

Desempenho da AngloGold Ashanti na bolsa de Nova York: Julho/20 a Maio/21. Fonte: Investing.

Em suma, é importante ressaltar que os valores de desempenho englobam vários fatores, como a produção, demanda global, conflitos locais, correções da própria bolsa, entre outros. Dessa forma, para fazer uma avaliação mais precisa é importante avaliar todos os fatores aliado aos resultados apresentados.

Novas Perspectivas

Mina de minério de ferro. Foto: Getty Images

Em junho de 2020, o debate entre o diretor da B3, diretor da TSX/TSXV, e o presidente do Conselho da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM), mediada pelo diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), trouxe novas perspectivas. Em março deste mesmo ano, o IBRAM assinou um Memorando de Entendimento (MOU) com as bolsas canadenses Toronto Stock Exchange (TSX) e TSX Venture Exchange (TSXV) para estabelecer um relacionamento colaborativo com o intuito de aumentar o investimento no setor de mineração brasileiro nos próximos anos. Vale ressaltar que as bolsas canadenses são um dos principais locais que sediam as mais importantes empresas de mineração, petróleo e gás do mundo. Dessa forma, espera-se a expansão da pesquisa geológica, exploração e desenvolvimento de projetos de mineração no Brasil.

A bolsa de valores brasileira acredita no potencial de captação de recursos no mercado de capitais por parte de mineradoras, e também de empresas de pesquisa mineral de pequeno e médio porte. O objetivo é que a B3 atue em conjunto com o IBRAM e as bolsas canadenses, TSX e TSXV, e também com o governo, para avaliar a criação de instrumentos regulatórios específicos para que essas empresas encontrem portas abertas para acessar capital tanto no mercado financeiro nacional quanto no canadense.

Em artigo publicado da In The Mine, Fernando Ferreira, Estrategista-Chefe e Head do Research da XP Investimentos, aponta que as mineradoras brasileiras interessadas em atrair investidores precisam dedicar atenção privilegiada às boas práticas de ESG (Environmental, Social and Governance), ou seja, de respeito ao meio ambiente, ao social e a uma governança sólida. Além disso, Guillaume Légaré, Head South America da TSX, ressalta a importância da qualidade dos relatórios geológicos técnicos específicos para comprovar as reservas minerais, assim como, de uma equipe de governança e com capacidade de desenvolver projetos com eficiência.

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Referências:

  • IBRAM
  • IN The Mine
  • Investing
  • InfoMoney
  • Seu Dinheiro
  • XP Investimentos
  • Portal The Cap
  • Invest News