O Corona vírus (COVID-19) já causou a morte de mais de três mil pessoas na China (1) e quase 4000 pessoas em outros países. No Brasil, foram confirmados trezentos e um casos da doença e mais 2000 casos suspeitos(2).
Além das enormes e lamentáveis perdas humanas, o aumento de casos fora da China tem causado grande retração dos principais mercados de capitais ao redor do mundo. O temor de uma pandemia e consequente retração da atividade econômica mundial tem gerado pânico nas principais bolsas de valores do mundo e em toda a cadeia produtiva em geral.
Em um mundo cada vez mais globalizado e com processos produtivos interligados, uma crise deste porte em um dos maiores parques produtivos mundiais, afeta praticamente todos os países industrializados.
No setor de mineração a situação não é diferente. Tendo como principal mercado consumidor de grande parte das commodities minerais a China, as mineradoras temem que a queda da atividade econômica chinesa culmine numa retração da demanda por insumos minerais.
Em parte isso já vem acontecendo, em paralelo à divulgação de dados de contração da atividade industrial chinesa em fevereiro, chegando a níveis próximos aos observados em 2004(3), as exportações brasileiras de minério de ferro também em fevereiro tiveram uma queda de 23,6% se comparadas ao mesmo período de 2019(4).
Além dos impactos no mercado consumidor de seus produtos, a industria mineral brasileira sofre também com a importação de equipamentos e peças. Com o avanço da doença na China, diversas fábricas interromperam suas operações, reduzindo drasticamente a fabricação e disponibilidade de máquinas para os mais diversos setores.
Apesar das perspectivas negativas para a indústria no mundo, analistas acreditam que os impactos reais sobre a economia mundial podem ser atenuados com o fim do inverno no hemisfério norte e avanço nas pesquisas de vacinas e medicamentos contra a doença.
De toda forma, a indústria mineral brasileira que ainda se recuperava das crises internacionais de commodities e da crise político-econômica vivida na segunda metade desta década terá grandes desafios neste ano com a redução de demanda e de preço de seus principais bens minerais.
Impacto sobre o preço do Minério de Ferro
A forte queda da demanda chinesa por Minério de Ferro teve impacto direto nos contratos de janeiro e fevereiro de 2020 para a venda do minério brasileiro. O índice Platts, principal índice de referência para compra e venda de minério de ferro saiu de 95.65 USD/t no início do ano, para 82.55 USD/t no final do mês de janeiro após a divulgação do avanço da doença na China. Atualmente o índice obteve uma leve recuperação, chegando à 87.85 USD/t (5).
A queda nos preços que ocorreu no período, no entanto, é bem menor do que a observada nas crises das commodities em 2016 e 2017, quando o minério de ferro chegou a ser negociado a 37.00 USD/t.
Como impacto direto desta queda de preços e dos prognósticos do avanço do COVID-19 pelo mundo, as ações da Vale já recuaram 11,4%, enquanto a Gerdau teve perdas de 9,2% (6). Apesar disso, analistas acreditam que os preços podem ser recuperar ainda em 2020 com o consumo do estoque de minério acumulado nos portos chineses pelo desaquecimento das atividades produtivas, e pelas ações de incentivo do governo chinês à economia.
Impacto sobre outras commodities minerais
Assim como no Minério de Ferro, diversas outras commodities minerais apresentaram quedas bruscas de preços após a divulgação de dados sobre o avanço do Coronavírus na China. Segundo comunicado oficial da BHP Biliton, maior mineradora do mundo, “Se o surto viral não estiver comprovadamente contido no primeiro trimestre, esperamos revisar nossas expectativas de crescimento da demanda econômica e de commodities para baixo.”
Esta tendência reflete no preço das principais commodities minerais, como o Cobre que atingiu seu auge no ano em 6 300.50 USD/t e atualmente é comercializado a 5 669.76 USD/t(7).
De maneira análoga, o Níquel sofreu forte queda a partir da segunda quinzena de janeiro, quando dados alarmantes do aumento de casos confirmados do Coronavírus foram divulgados. A commodity chegou a ser negociada à 14 290.00 USD/t em janeiro e atualmente é cotada em 12 659.10 USD/t (8).
Na contramão da maior parte dos metais, o Ouro tem apresentado um aumento notável em sua cotação principalmente pelo caos criado nos mercados financeiros pela difusão do COVID-19. O metal amarelo é tido como porto seguro para investidores em tempos de crise, portanto saiu da casa dos 1460.00 USD/oz no final do ano passado para 1660.00 USD/oz em janeiro deste ano(9).
O que esperar para 2020
Em um ambiente muito especulativo e de grande volatilidade, as previsões para o ano tem se desmantelado a cada nova notícia sobre a proliferação do vírus. Apesar disso, analistas acreditam que com o fim do inverno no hemisfério norte e os esforços mundiais em pesquisa sobre o COVID-19 podem trazer um ambiente de maior tranquilidade no segundo semestre de 2020.
O Credit Suisse, por exemplo, destacou que o minério de ferro teve o pior momento com o vírus chinês. “O minério de ferro foi precificado para uma demanda robusta e oferta reduzida no primeiro trimestre, mas o vírus levou ao oposto, com a demanda ausente e os estoques portuários provavelmente aumentando” (10).
Não se sabe ao certo a velocidade com que a economia mundial se recuperará, mesmo que a proliferação do vírus arrefeça. No entanto a recente queda do aumento diário dos casos comprovados da doença pode indicar que a atividade industrial na China se recuperará ainda em 2020, e, por consequência, trará os preços das commodities minerais aos patamares do final de 2019.
Além disso, o governo chinês tem tomado medidas para o reaquecimento de sua atividade produtiva, como a redução de impostos corporativos e o corte de gastos do governo, que devem surtir efeitos ainda no segundo trimestre.
Outras potências econômicas mundiais anunciaram medidas para atenuar os efeitos do Coronavírus na economia mundial, como os Estados Unidos, que, por meio do FED, anunciou um corte de 0.5 ponto percentual em sua taxa básica de juros. O mesmo aconteceu na Austrália e deverá acontecer no Brasil na próxima reunião do Copom(11).
A união europeia prepara também medidas para estimular a economia, como isenção de impostos e parcelamento de dívidas fiscais. Tais ações dão maior folego às empresas para honrarem seus compromissos além de proverem crédito mais barato, favorecendo o investimento nos mais diversos setores produtivos.
Se por um lado as ações governamentais visam estimular a economia mundial para que os efeitos do Coronavírus se dissipem rapidamente, por outro elas evidenciam a grande preocupação dos países com o impacto da proliferação viral em suas economias. As próximas semanas mostrarão, com maior clareza, o impacto real dessas ações na economia mundial, por conseguinte, no setor mineral.
- Segundo monitoramento da Universidade Johns Hopkins
- Segundo dados do Ministério da Saúde, 17 de março de 2020;
- De acordo com Bureau Nacional de Estatísticas (BNS), segundo informações da France Press. O índice de gestores de compras (PMI) para o mês de fevereiro se situou em 35,7 pontos, contra 50,0 em janeiro, segundo o BNS. Uma cifra acima de 50 indica expansão da atividade e abaixo, contração;
- De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), divulgados 02/03/2020;
- Iron Ore Index – IODEX – PLATTS – 03/03/2020;
- Comparando de 20 de janeiro à 03 de março de 2020;
- Fonte: https://markets.businessinsider.com/;
- Fonte: https://markets.businessinsider.com/;
- Fonte: https://infomine.com
- Via Infomoney
- Reunião do COPOM nos dias 17 e 18 de março de 2020