Lítio: saiba mais sobre esse elemento químico

A crescente comercialização de carros elétricos, smartphones e outros aparelhos eletrônicos impulsiona fortemente o aumento da demanda por Lítio, substância indispensável na produção de baterias recarregáveis.

Nesse cenário, o lítio é considerado um metal estratégico em todo o mundo e a busca por novas reservas tem se tornado cada vez mais recorrente. O elemento é o de menor densidade do grupo dos metais e também o mais eletropositivo. Sua abundância na crosta terrestre é relativamente baixa, de apenas 12 ppb (parte por bilhão).

Ao longo desse texto, serão apresentadas as principais fontes, aplicações, reservas mundiais e nacionais, principais produtores e o atual contexto econômico do lítio.

Fontes de Lítio

O lítio pode ser encontrado em diferentes minerais. Entretanto, são considerados mais viáveis economicamente para explotação o espodumênio, a lepidolita, a petalita, a ambligonita e a montebrasita. Nesse sentido, as fontes predominantes são o espodumênio e a lepidolita.

A ocorrência desses minerais se dá principalmente em pegmatitos graníticos e salmouras. No primeiro caso, os pegmatitos são rochas ígneas com granulometria grossa, formadas a partir de fluidos residuais enriquecidos em elementos raros. Os pegmatitos são compostos principalmente por feldspato, quartzo e mica, com a presença em menor quantidade de outros minerais, como a turmalina, granada, microclina pertitica, berilo e espodumênio.

Além dos pegmatitos graníticos, o lítio também pode ser extraído de salmouras. Nesse tipo de ocorrência, os ambientes são comumente secos com taxas elevadas de evaporação da água, permitindo a formação de salmouras em que também são formados minerais evaporíticos, com enriquecimento de elementos contidos (Mg, Na, K, Li, I, B).

No Brasil, as principais fontes de Lítio são os pegmatitos graníticos. Em escala mundial, há altas concentrações de lítio nas salmouras do deserto da Califórnia, de Nevada e de Utah. Outros importantes depósitos são as salmouras do deserto do Atacama (Chile), o deserto de sal Salar Uyuni (Bolívia), na Argentina (Salar del Hombre Muerto, El Rincon), no Tibet (Lake Zabuye), e na República Popular da China (Qinghai Basin).

Localização dos principais depósitos de lítio em pegmatitos e salmouras no mundo. Fonte: Kesler et al. (2012). Os retângulos sombreados representam a distribuição dos salares na América do Sul e na China.

Aplicações do Lítio

As principais formas em que o lítio é utilizado industrialmente são o hidróxido de lítio (LiOH) e o carbonato de lítio (Li2CO3) (Braga & França 2013). Ambos possuem diversas aplicações. Confira a seguir seus principais usos:

Baterias e acumuladores:

Uma das principais aplicações do lítio é na produção de baterias, em que são utilizados diversos sais de lítios como eletrólitos em baterias primárias.

As baterias de lítio requerem baixa taxa de manutenção ou nenhuma, não necessitam de exercício (descarga completa deliberada) para mantê-las em boa forma, possuem vida útil longa, alta densidade energética, entre outras vantagens.

Atualmente, essas baterias são largamente empregadas na fabricação de carros elétricos. Em 2021, segundo o relatório da International Energy Agency, 6,6 milhões de carros elétricos foram vendidos. Esse número corresponde a mais que o dobro de vendas registradas no ano de 2020.

Carro Elétrico Tesla. Fonte: https://www.tecmundo.com.br/mercado/137949-tesla-lanca-carregador-portatil-carros-eletricos.htm

Graxas e Lubrificantes:

Para produção de graxas e lubrificantes, é utilizado o hidróxido de lítio. Um dos benefícios proporcionados pelo uso do metal é que a graxa passa a ter elevada resistência à umidade e à alta temperatura. Dessa forma, esse tipo de graxa é totalmente adequada para lubrificação de rolamentos de automóveis, aeronaves e maquinaria pesada.

Cerâmicas e Vidros:

A utilização do lítio na produção de cerâmicas e vidros contribui com a melhoria na resistência química, resistência a choque térmico e nas condições de moldabilidade da peça. Exemplo disso são os tubos de cinescópio para televisores e monitores para computador que utilizam o carbonato de lítio na sua formulação.

O lítio possui outras diversas aplicações, como no processo de eletrólise do alumínio, produção de borracha e plásticos, controle de umidade industrial e tratamento de ar, além do uso pela indústria farmacêutica.

Reservas mundiais e principais produtores

Conforme dados apresentados pelo Sumário de Commodities Minerais (2021), produzido pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), os maiores produtores de Lítio no ano de 2019, em toneladas, foram:

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O USGS também estimou a dimensão das reservas de lítio que esses países possuem, como você pode observar na tabela abaixo:

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Nesse cenário, destaca-se os recursos identificados de lítio na Bolívia. O serviço geológico estadunidense estimou que o país possui recursos de até 21 milhões de toneladas do metal, em razão do deserto Salar de Uyuni que abriga 50% do lítio presente no planeta. Porém, a Bolívia ainda não iniciou a explotação do minério dado a baixa viabilidade técnica.

Deserto Salar de Uyuni – Bolívia. Fonte: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2019/11/litio-riqueza-no-deserto-de-sal-da-bolivia.html

Reservas e produção brasileira

Atualmente, segundo levantamento do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), o Brasil detém 8% das reservas mundiais de Lítio. Ainda de acordo com dados da Agência Nacional de Mineração (ANM), em 2020, a produção brasileira de lítio foi de 4065,75 toneladas.

No Brasil, uma das principais províncias de pegmatito do país, a Província Pegmatítica Oriental do Brasil, tem 90% da sua área localizada no estado de Minas Gerais, mas também abrange os estados da Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Na figura abaixo, está representada a distribuição das áreas com jazidas ou ocorrência de lítio em Minas Gerais:

Mapa de Minas Gerais mostrando a distribuição das áreas com jazidas e ocorrências de minerais de lítio em Minas Gerais. Fonte: http://recursomineralmg.codemge.com.br/substancias-minerais/litio/#reservas

O Distrito Pegmatítico de Araçuaí, na região de Araçuaí/Itinga, possui um dos principais depósitos de lítio do país, com predominância dos minerais espodumênio e petalita. Essa região responde pela maior parte da produção brasileira de Lítio. No distrito, o minério é lavrado por meio de minas subterrâneas.

Província Pegmatítica Oriental do Brasil. Fonte: (KAHWAGE, 2003)

Já na região Leste de Minas Gerais, foram identificadas pelo Projeto Leste, desenvolvido pela CPRM, 811 ocorrências de pegmatitos distribuídos por 21 campos pegmatíticos que foram reunidos em 7 Distritos Pegmatíticos, sendo eles os municípios de Governador Valadares, Santa Maria do Suaçuí, Galiléia, Conselheiro Pena, Resplendor, Divino das Laranjeiras e Mendes Pimentel. Na área, os pegmatitos contêm os minerais ambligonita, lepidolita e espodumênio, dos quais pode ser feita a extração do lítio.

Outra região rica em pegmatitos é o Distrito Pegmatítico de São João del Rei que abrange os municípios de Nazareno, São Tiago, Resende Costa, Conceição da Barra de Minas, São João del Rei, Ritápolis e Coronel Xavier Chaves. Em pesquisa feita pela CPRM no ano de 2018, foram identificadas quatro regiões de potencial geológico do lítio localizadas nos municípios de São Tiago e Nazareno.

Além disso, no Estado do Ceará há ocorrência de corpos pegmatíticos no Distrito Pegmatítico de Cristais-Russas, abrangendo os municípios de Cascavel, Aracoiaba, Russas e Morada Nova, e no Distrito Pegmatítico de Solonópole-Quixeramobim (DPSQ), que engloba os municípios de Solonópole, Quixadá, Milhã e Banabuiú. Outras ocorrências foram identificadas nos distritos de Parambu, Icó e Itapiúna. Nesse sentido, o DPSQ, apresenta a maior concentração de pegmatitos com potencial econômico. Entretanto, a região ainda está em fase de pesquisa.

No ano de 2021, apenas dois titulares, AMG Brasil S.A. e a Companhia Brasileira de Lítio (CBL), pagaram a CFEM – Compensação Financeira pela Exploração Mineral – relativa à utilização econômica do lítio em seus respectivos territórios. O total arrecadado foi de R $5,5 milhões. Ambas as mineradoras concentram suas operações em Minas Gerais nas áreas circuladas no mapa abaixo. O círculo menor e o maior correspondem às áreas mineradas pela CBL e AMG, respectivamente.

Arrecadação da CFEM respectiva à utilização econômica do lítio. Fonte: ANM.

Atual contexto econômico do Lítio

A alta demanda por carros elétricos, impulsionada pelo aumento das vendas da Tesla e de outras montadoras, influenciou diretamente no aumento do preço do Lítio devido ao seu papel na produção das baterias utilizadas nos carros elétricos. Segundo o portal Notícias de Mineração, o lítio foi a commodity de melhor desempenho em 2021. O preço do metal disparou 477,42% no ano.

No dia 06 de maio de 2022, o valor da tonelada do carbonato de litio, convertido para dólares, era de US $67.752,19. Confira no gráfico abaixo (em CNY – Yuan):

Preço da tonelada do carbonato de Lítio. Fonte: https://tradingeconomics.com/commodity/lithium

A maior mineradora do metal, A Albemarle Corp, teve um salto em suas ações de 19% com o aumento do preço do lítio. Da mesma forma, a Livent, terceira maior mineradora da substância, dobrou sua orientação de ganhos para 2022.

Entretanto, uma das preocupações do ramo é a escassez de oferta do lítio. Isso porque não existem muitos projetos ativos para extração do metal e o investimento inicial para minerá-lo é muito alto, levando anos para que a mina entre em operação. Atualmente, não há substituição do lítio para fabricação de baterias de veículos elétricos, o que o torna indispensável para esse setor da indústria.

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